palestina da Catástrofe ao Retorno

palestina da Catástrofe ao Retorno


O dia seguinte à criação do Estado de Israel (1948) é lembrado pelo povo palestino como Dia da Catástrofe (Al-Nakba), ou Êxodo Palestino. Em um único dia, as aldeias e cidades palestinas foram invadidas e incendiadas e 750.000 moradores expulsos, executados, submetidos ao “desaparecimento forçado” ou à condição de refugiados.

A criação de Israel remonta à doutrina do Sionismo, cunhada especialmente a partir de intelectuais e empresários judeus fixados na Europa. No início do século XX, essa doutrina se aliou à oligarquia financeira mundial, que estava centrada em Londres. Foi ao encontro dos interesses britânicos na I Guerra Mundial, que pretendiam vencer o conflito a qualquer custo. Em troca, a Grã-Bretanha apresentou a Declaração de Balfour, em 02/11/1917, com a promessa de criar um “Lar Nacional Judeu na Palestina”, que era então um território colonizado pelos britânicos. Em 1919, o Acordo Feizal-Weizman estimulou a migração de judeus para a Palestina e seu imediato assentamento.

Assim, foi de dentro do colonialismo britânico que surgiu a primeira manifestação concreta para criação do Estado de Israel. Por isso a lógica inocultável traçada por Boaventura de Sousa Santos: “a criação de Israel é um ato de ocupação e como tal terá de enfrentar para sempre a resistência dos ocupados” (www.cartamaior.com.br).

A criação de Israel oculta essa origem de troca colonial, e justifica a si mesma apenas como uma reparação ao sofrimento que o nazismo impôs aos judeus. O embaixador palestino Suhail Akel (www.suhailakeljerusalem.com) denuncia a criação da “indústria da culpa”, em que qualquer questionamento das ações de Israel é chamado de negação do holocausto.

Ora, o genocídio nazi-fascista contra os judeus jamais poderá ser negado nem esquecido, devendo-se mostrar ao mundo o significado da vitória da guerra contra o nazi-fascismo e a necessidade de combater todas as formas de opressão dos povos. Por isso mesmo, que é tão necessária a defesa da causa Palestina.

Para compreender o chamado conflito árabe-israelense, é importante remontar o cenário do fim da II Segunda, pela análise de Mao Tsetung em 19481:

“A partir da vitória na Segunda Guerra Mundial, o imperialismo norte-americano passou a ocupar o lugar da Alemanha, da Itália e do Japão fascistas e, juntamente com os seus lacaios dos vários países, está preparando freneticamente uma nova guerra mundial e ameaça o mundo inteiro; isto reflete a extrema decadência do mundo capitalista e o seu pavor ante a ruína iminente.”

Ninguém menos que Albert Einstein e outras personalidades judias mundialmente conhecidas publicaram, no New York Times de 02/12/1948, carta dizendo que “os dirigentes israelenses são fascistas” (www.rebelion.org), em que denunciam a ação de forças paramilitares judias na Palestina desde antes da criação de Israel. E mostram, como exemplo, a invasão da aldeia árabe Deir Yassim, em Jerusalém, em 9 de abril de 1948. Os camponeses não haviam tomado parte no conflito e inclusive firmaram um pacto de não-agressão. Ainda assim, os bandos terroristas do chamado Partido da Liberdade mataram a maioria de seus habitantes, 240 homens, mulheres e crianças, e mantiveram alguns com vida para desfilar com eles pelas ruas de Jerusalém. Os dirigentes não se preocuparam em ocultar o massacre. Expuseram os corpos e escombros aos correspondentes internacionais como ato de orgulho e intimidação. Hoje, Deir Yassim resta enterrada sob o bairro Kfar Shaul, subúrbio de Jerusalém Ocidental, e foi um dos 418 povoados palestinos sobre cujas ruínas se ergueram cidades israelenses.

Na virada de 2008 para 2009, a catástrofe se repetiu, com os bombardeios sobre a Faixa de Gaza. Mas não acabaram as violações. Os cidadãos de Gaza sequer podem reconstruir seus prédios, devido ao bloqueio econômico e militar na fronteira com Israel e no acesso marítimo. Há um ano, em maio de 2010, Israel atacou, em águas internacionais, a Frota Gaza Livre, uma frota de embarcações que se dirigia a Gaza com 750 pessoas desarmadas de 50 países, levando 10 toneladas de materiais de construção, alimentos, remédios, brinquedos e livros. Na emboscada, 9 ativistas desarmados foram mortos, mais de 30 feridos, e os demais foram presos e denunciaram que teriam sido forçados a assinar documento dizendo que teriam entrado ilegalmente em Israel, para serem libertados.

Milhares de ativistas da causa palestina estão nas prisões israelenses. Os palestinos que vivem em Israel são tratados com a pecha de “cidadãos de segunda classe”, submetidos à força policial de um Estado que não é o deles. No passado e no presente, é fundamental denunciar as violações contra o povo palestino, como parte da luta anti-imperialista.

Em abril de 1945, Mao Tsetung já mostrava com clareza o significado da derrota das forças fascistas na guerra:

“Tudo isso não significa que já não haverá mais luta após a derrota dos países fascistas agressores, após o fim da Segunda Guerra Mundial e o estabelecimento da paz internacional. As forças residuais do fascismo, dispersas por várias regiões, hão-de seguramente continuar a provocar desordens e, no campo que combate agora a guerra de agressão fascista, existem forças que se opõem à democracia e oprimem outras nações e que hão-de continuar a oprimir os povos de vários países, colônias e semi-colônias. Assim, após o estabelecimento da paz internacional haverá ainda numerosas lutas na maior parte do mundo - entre as massas populares antifascistas e aquilo que restar do fascismo, entre a democracia e a anti-democracia, entre a libertação e a opressão nacional. O povo só alcançará a vitória máxima graças a prolongados esforços, e apenas quando as forças que restarem do fascismo, as forças anti-democráticas e todas as forças imperialistas tiverem sido batidas. Está claro que esse momento não há-de chegar dentro em breve, nem muito facilmente, mas há-de seguramente chegar.

E assim, somos transportados aos conflitos da época atual. Enquanto, do lado israelense, se comemora o “Dia da Independência”, os árabes, em especial os palestinos, celebram o Dia da Catástrofe (15 de maio de 1948), como um dia de memória, luto e resistência. A celebração incomoda: em maio de 2009, o parlamento israelense aprovou a pena de prisão para quem participar de atos comemorativos da Nakba.

Em 2011, o “Dia da Catástrofe” se transforma no dia do “Retorno à Palestina”. Para o dia 15 de maio, é convocada uma marcha mundial de “todos os Árabes” e internacionalistas. Milhões de manifestantes do Egito e Líbano vão à Palestina, unir suas vozes às dos palestinos na Faixa de Gaza, acompanhados por manifestações na Turquia, Inglaterra, Irlanda, Bélgica, Alemanha, Suíça, Itália, Canadá, Tunísia, EUA e Austrália. É um passo a mais na longa luta dos povos contra o fascismo.